sexta-feira, outubro 12, 2007

Sermão da tarde aos homens



Bem dito!
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Bendito o talo
Por ser arqueado e bastardo ejacula o vinho;
Por ser louco e disforme santifica o espinho;
Por abranger todos os sacrifícios pendentes e por saber-se
Crucifixado a uma masmorra de vento quase
Abastece o âmago:
Bendito! Porque é dele a virgindade niquelada
Que nunca se murcha de cansaço;
Porque é dele o destino escorrido que se agarra incompleto,
Ao grude do sereno!
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Bendita a lágrima
Por ser desbastada e inóspita anuncia o inesperado;
Por caber e se entornar ao pranto reinventa o betume;
Por cingir todas as tessituras do ato-falho da fala
E por espremer-se indecorosa dentro de uma bacia de orvalho
Premedita o escândalo:
Bendita! Porque é dela a contextura tornada adúltera;
Porque é dela a saliência menstruada que penetra o ar;
Porque é dela o quefazer de uma enlameada lâmina de incisão,
Ao ermo do sereno!
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Bem dita!

Bendita a dor sem odor,
Porque ela verá a fêmea flor dos desesperados!
Bendito o cravo calcinado asfixiando o gás do desespero,
Porque ele verá o principio ativo das línguas amordaçadas!
Bendita a chama decaindo para o sopro do desespero,
Porque ela verá o vento póstumo das partidas!
Bendito o alimento azeitado na flama ronquidão do desespero,
Porque ele verá o estômago pêco dos vencidos!
Bendita a palavra maquinada no suor afogueado do desespero,
Porque ela verá o flúmen dos poetas!
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Não.
Não há volúpia que menos se afogue
E que aos mortos redivivos seja tão profundo...
Não há expiação que mais se defeque
E que aos poetas seja tão vago-mundo...
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Não.
Não há tessitura que mais se adule
E que aos solstícios seja tão aro-de-venta...
Não há ingenuidade que mais se pule
E que aos taciturnos seja tão virulenta...
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Bendito o que vem do talo!
Bendito o que escorre da lágrima!

Foto: Flickr/Creative Commons
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2 comentários:

Anônimo disse...

Bendito seja Benny
Que sempre escreve com a força da alma!
Achei sua outra casa.
Beijo
Raquel

Anônimo disse...

NãoSoUEuéaOutra

Benny, impecável seu mundo de arvores-palavras... Voçê tem um "dom" bem forte da palavra, pode usá-la como quiser... a busca pela liberdade é uma extravagancia que muitos não ousam procurar e voçê tem como principio que ela não fuja e faz questão de deixar isso bem claro... "eu sou a palavra, e não tenho medo dela, como tal aos fundos dos sem fundos irei, só para arrancar um pouco dessa pedra tão perfeita que os antigos da alta antiguidade ousaram dizer ao mundo que ela existe"... creio, que em alguns momentos voçê quase desaparece, mas arranca o desaparecer e coloca o parecer uma e outra vez...

Um abraço.. respondi em Selvagens Orquideas ou vice versa...