terça-feira, setembro 15, 2009

Urros de Solitárias Gargantas




(Para Ivan Cezar)

I
Desvestida
pelo beiço de rodagem,
tal como uma agonia nua de pêndulo em movimento,
fomes (ainda) brilharão no silêncio
(essa subterrânea utopia que nos chega de véspera)
rejeitarão urros de solitárias gargantas;
hão de ser súplicas de brisa-dor
que os esmolambes das tabernas,
ricas e enfloradas,
vomitarão aos alvoreceres
mais difusos.

II
Exceto implacáveis artilharias
que os tendões de quinas esfomeadas
iscarão a prumo,
os porões dos dias que me cegam
e os arrabaldes das guirlandas que me velam
e os ruídos dos tumores que me cercam
dar-se-ão ao betume das faces
(embaciadas e lésbicas)
como quem se entrega ao poema
pelas neblinas do retropasso,
como quem se joga ao orgasmo
dos arranha-céus andróginos
pelas genitálias dos pés de uvas
e ao ombro
onde a mão da noite
desvendou a salinidade
meta-morfoseada dos homens
as flores-pratas fundem-se em efusões de pegadas
e onde as incontáveis criaturas do sol
põem-se a cuidar da loucura
que os olhares
afundidos dos carnívoros cárceres
foram alastrando a quem foge no poema
ou sobrenada nos jasmins
sem paragens.

III
Oh, vento! Oh, moinho!
Sob os nossos pés
fundir-se-ão os montões de esmeraldas,
os ramos de nódoa se dissolverão
como o beijo perto da boca,
como a fetidez da aurora
que rola pela lágrima,
como nádegas mesmo se filamentos sem línguas,
como cócegas mesmo se pensamentos sem diques,
como álacres begônias em cachos desumanos,
como nuvens de revólveres
com roucas amnésias,
como estômagos mesmo se assassinos em série
que depositam jazidas de ironia
na cumeada das bocas.

© Benny Franklin

Fotografia by Galeria de Diegowarhol/Flickr/Creative Commons,
Upload feito em 6 de outubro de 2008.

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6 comentários:

IVANCEZAR disse...

O que poderia dizer ??
Que palavras viriam em socorro ??
Quiçá, dizendo pouco, possa expressar muito do que sinto .
Emoção , pura e simples , porque cada vez que visito a poesia Bennyana sinto-me saciado, completo, feliz .
Um dos maiores poetas contemporâneos, que o tempo irá guardar em suas galerias geladas

Meu abraço !!!!

Maria Cintia Thome Teixeira Pinto disse...

Em cada coração, uma caverna...
Homem ou mulher, um dia, o ser engravida,
E renasce a luz de Maria,
E o Anjo de novo anuncia.
Na pobreza e no abandono,
O Mistério se cumpre em cada um
Que se descobre longe da cruz,
Levada pelo mesmo sangue Jesus.
E a Rainha olha por todos,
E seu manto azul é escudo da Terra,
Protege e perdoa mesmo quem erra.
Mãe, mater, Matéria divina, que vibra
E esmaga serpentes e dragões,
E resgata o peregrino
De um deserto de aflições
E há de saber um dia,
Livrar-nos de toda miséria.
Salve, Maria!
Salve, Rainha!

Texto O Doce Mistério de Maria de Fauzi Arap
Extraído do disco Cânticos, Preces e Súplicas
à Senhora dos Jardins do Céu - 2000

~*Rebeca*~ disse...

Adorei!

L. Rafael Nolli disse...

Benny, como sempre, fazendo um poema vigorosa, sem conceções para o banal: forte e contundente! Abraços!

tenorio disse...

Ei grande Benny! Sou o Tiago Tenório, que colabora todo dia quinze no Poema Dia. Estou lançando um novo blog, inspirado em iniciativas pioneiras (como a da talentosa Ana Paula Maia), que é um folhetim virtual onde o leitor poderá acompanhar, capítulo a capítulo, meu romance inédito “Garcia vai morrer”, que trata de um cara (o Garcia do título) que descobre que morrerá muito em breve. Agora só o que ele quer entender é: quem teve uma vida medíocre, merece uma morte mais medíocre ainda? Inconformado com o fim que o espera, provavelmente num leito de hospital público, ele vai em busca de um outro desfecho, talvez mais grandioso. E este é um convite que faço para que visite o espaço, repare se gosta de alguma coisa, deixe seus comentários, me ajude a descobrir se o texto vale alguma coisa ou não. Se você chegou até aqui, agradeço demais a atenção dispensada e até breve. Evoé!

garciavaimorrer.wordpress.com/

Jeferson Cardoso disse...

Bem, espere que eu explicarei: para mim o poema acima é novo, pois entrei em seu blog e fui vendo as imagens, lendo um pouco, e hoje, com mais calma, vi o poema, que para mim foi novidade (sorrio).