sábado, dezembro 09, 2006

Matéria Abstrata

Para RON, poeta amigo, comemorando um tanto...

I
Orquídeas perfumam a matéria abstrata
e são tão minhas, são nada!
Deuses protegem as substâncias inexistentes
e são meus guias, são nada!
Palavras degustam a fomedez do poeta
e são de mim, são nada!
Homens despojam a madrugada
e são desprezíveis, são nada!
Ventos espalham dores redivivas
e são poemas de vida, são nada!
Reis aclamam açoites mofentos
e são meus únicos súditos, são nada!
Todos... Todos
desapareceram, abraçaram a tormenta,
duvidaram do orgasmo,
incitaram a partida,
cooptaram a revolta,
cuspiram na verdade,
choraram fomes desumanas...,
Mas você...,
Ah... Você, flor rebelde,
que eu tanto a vi voar,
não beijou-me!
Ignorou-me!
Que te fiz amor meu,
para merecer tamanha repulsa?

II
Dá-me um pedaço de terra,
que eu produzirei amoras e melosos ingás selvagens...,
Dá-me um abraço de palavras,
que eu expulsarei inimigos e insidiosos corações selvagens...,
Dá-me um pouco de comida,
que eu alimentarei nações e intermináveis favelas selvagens...,
Dá-me um céu de diamante,
que eu distribuirei fortunas e prodigiosas esperanças selvagens...,
Dá-me um beijo metafísico,
que eu retribuirei afeto e decretarei
a sentença de vida que os covardes renegam-te selvagemente
(desdizendo da angustia dos desesperados,
quando ainda nem é
vigília de Pentecostes)...,
Dá-me um pedaço de pão,
que eu libertarei terras e milhares de angustias desditas
e a vida, naufrágio dos desaguados,
jamais será a mesma...,
Já que o sol da meia noite,
como de costume,
não ilumina o dia
sem o gravame da penetração.

Foto: Fotografia na Net
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Um comentário:

Anônimo disse...

benny, maravilha de texto. Aproveito para desejar um feliz 2007 com muita inspiração.