quinta-feira, março 20, 2008

Tempo de beber palavras!

(Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?) Bob Dylan

1
Procurando Deus
Entre o lusco-fusco dos mortais,
Rasgo a seda da mesmice e descubro
Que é superabundante o tempo
De contemplar pessoas, de abraçá-las,
Falá-las do salgado beijo da procura;
Porque dissuadi-las do insólito cuspe
Nada mais é do que travar
O lacre da revolta.

2.
O galho recebe o pássaro,
O excremento extirpa do vento
A nódoa do cansaço:

Dúvida que contamina o orgasmo।
- Tempo! - Vento!
Por que as pessoas tornam-se cruas e covardes,
E não se compadecem dos estômagos retorcidos,
Porque nus e baldios?

3.
Ponho fé que (já) madruga o gozo de contar estrelas.
Razão que (me) permite admirá-las, senti-las...
Proeza que (me) impõe o silenciar das algemas...
Cujo remover das grades de mira e gente
Não incita a morte e nem agride
A insensatez do gatilho...
Porque aprendi que escrever é inventar estrelas,
É sugá-las à fórceps do vazio...
É desempossá-las das infinitudes,
É amontoá-las nas beiras-vidas...
É crê-las coxas hermafroditas,
E, fazer parte do jogo,
Não agride o encoberto.

4.
Vida... Oh! Vida!
Oh! Quadrante norte!
Oh! Pedra de ferir firmamento!
Devolvam-me a ausência do tempo...
Salvem-me do fogo e amedrontem a lenha
Que anima a derrota.
Cá, renovo-me no quebranto dos ancoradouros,
Escarro fumaça, poesias...
Soletro-as sem “pedir paga”.
Apascento-as.
Extirpo-as da expiação.
Poeto-as.
Graúdo e ereto,
Ouso desacorrentá-las dos revoltos mares
Da espera. Roço-as em gélidas faces,
Apimento-as. O sacrifício é nada:
Creio-as cortantes...
Descreio-as sangrando...

5.
As espadas amam-me em segredo,
O febril tendão asfixia cada pecado de mim
E as estrelas fervilham em meus olhos...
Porquanto sob o céu de desalojar pavor,
Busco-as redivivas a tempo de reinventá-las,
De apreciá-las descalças...
Porque chupá-las do metafísico alimento
É o que (ainda) importa.

6.
- Esperança não me falte!
Vivo o tempo de beber palavras,
E as bebo por ti...

Foto: Ana Morkazel
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Um comentário:

Anônimo disse...

Teus poemas são magníficos, Benny!
São luzes iluminando novos rumos da poesia beat.

Aliás, és um dos grandes deste movimento.

Parabéns!

Marlos Santana,
São Paulo.