terça-feira, abril 01, 2008

Depois do silêncio!


(Depois de as lágrimas cessarem desoladas...)

1.
Que sejam expulsas
todas as covardias dos dizeres;
que sejam eliminadas
todas as inconsciências em eterna ebulição;
que sejam exorcizadas todas as nervuras
das carnes estigmatizadas;
que sejam dulcificadas todas as bolhas
do café com leite,
sobretudo aquelas bolhas em forma de touceiras
endeusadas pela contra-execução de morte.
Ao contrário da vagina cubana,
da iraquiana,
da americana,
a chinesa é repleta de bala,
de contêineres e expiação!
.......................

2.
Lembro-os! Houve um tempo
em que o mundo se resguardou
de ir à forra.
Recusou-se a suplantar a prova dos nove,
recusou-se de ir às novenas das terças.
Houve um tempo
em que o homem se banhou
em sangue, borra e curra;
tostou-se à fé tal qual embriague da laqueadura.
Lembro-os! Não era agradável de ver
o homem em fogosas lágrimas:
porque acossado pela baioneta,
espada e fuzil,
porque acometido de tétano,
náusea e sofreguidão,
porque compadecido dos loucos medos semi náufragos,
ficou impedido de desusar a sentença de morte
que, ao contrário da israelense,
da inglesa,
da italiana,
a mexicana é repleta de angina,
de narcotráfico e culhão!
.......................

3.
Lembro-os. Houve um tempo
em que podíamos comer fruta,
beber do sexo, gozar na maniva -
e desmascarar plumea solidão!
Lembro-os. Houve um tempo
em que podíamos beber da chuva
ler a Bíblia, comer russa ogiva -
e ainda urinar na escuridão!
Lembro-os. Houve um tempo
em que envelhecíamos poeta,
pateta, alça de maleta puída, ereta,
e acordávamos penetrado de egípcia
rapariga de seios e pernas alienígenas.
.......................

4.
Mesmo eu,
sem ser poeta, pateta,
iroço de goma e papeleta, exegeta,
lembro-os que não se podia morrer
desmerecido à luz da escopeta,
porque ante a gala que o vento
inseminou-me á madrugada,
eu lembrá-los-ia de que do seio direito da ogiva,
incidiu-vos as colheitas fúnebres do tempo.
Mesmo eu,
que soterrasse o poema
ao som dos guarás, das cornetas
e das carnes maneiras.
Mesmo eu que,
ao invés de silenciar-me ao som das caneletas,
ao lamento das picaretas oriundas
das pepitas fritas mercurizadas,
eu berrá-los-ia que o mundo e as vaginas parisienses
hão de ser só minhas!
.......................

5.
Mesmo eu,
que pudesse - isto sim!
- enternecer-me de céu,
que pudesse beber do mel,
que se resta estirado na esquina
tal qual indigna flor do nascente
em eterna ebulição:
que pudesse sobreviver sem borra de café,
sem leite, sem curra, sem dor.
Mesmo eu,
que não seja reenviado à dor.
que não borre a cor cristalina da algema fácil
- este estigma do iletrado escombro.
mesmo eu,
que não desnude a pele verbal,
que não deixe – isto sim!
- de gozar na súbita vazão do teorema;
que não anule a inspiração deste magro poema,
ou a razão!

Foto: Christian F. Bernal
Page copy protected against web site content infringement by Copyscape
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Um comentário:

Anônimo disse...

Poeta acelerado, completo...
Admiração constante e aprazível.
Parabéns!

Att. Saulo Hermann.
Curitiba-Pr.