quarta-feira, outubro 22, 2008

As verborragias fogem para boca!


I
Atropelo esse mundo sem glúteo
e um aguaceiro de carne
me rouba a palavra
e me arranca do cérebro a placenta do olhar,
é como a minha sânie de escrever,
que me expulsa do divã,
me subjuga, me humilha, me impõe o trajeto
da fuga e depois se esconde...

Mas.... será o verdadeiro diamante
composto do mesmo atoleiro,
da mesma geografia dos rostos
e do mesmo prazer?

II
Azedado
o poeta se desfaz do sexo das raparigas,
mistura a sua dor com o éter das madrugadas
e se entretém com o amarelecer dos cínicos frutos
para que não aconteça dos outros domingos
amanhecerem sem o cântico das cordilheirass...

Mas... estarão as outras segundas-feiras
a espera do embebedar dos deslembrados,
do fiapo do descanso
e a procura do soluço das cadeias?

III
As verborragias fogem para boca.
O vácuo as persegue.
Nem os prantos
irrequietos das lâminas obesas
quando alagam o mistério da sedução
conseguem engordurar a língua sitiada,
pois metáforas são e já não agradam
os elos da paixão.

IV
Solidão! Solidão!
Cede-me a tua camuflagem.
Desejo quebrar a algema da gaveta,
aguar nos olhos o ébano estrelado
e antes que o armagedom se aproxime do poema
salvemos as virgulas, as frases, entrerisos, retropassos..
Quem sabe assim apareça um porto de mel
onde possamos atracar o exame de consciência
que em pedaços se decompõe
no ácido da primavera
que conduzimos no bolso.

V
Oh! Fulgido clarão!
Perdera-se do luar o aperto de mão,
em coito sideral, recorrente,
voraz e impetuoso,
como uma eterna ejaculação,
suspensa na parreira...
Fugira-se pela garganta endêmica e pressurosa,
espraiando pelo pensamento
um poema inebriante
como imo de pênis ou fragrância de vagina!

VI
Ai! Poema!
Venero-te porque tua boca
sabe gritar rebeldia.

© Benny Franklin

Foto: Maria Hernandez

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