terça-feira, setembro 05, 2006

Fomedez do orvalho



1 – Se, da palavra,
Gala-se o verbo.
Que se apresse o vento
A matar-me de poesia e jardim.
Cujas flores multifacetadas desta angustia,
Que teima em ferir-me,
Recolhesse sobras de asteróides amazônicos
E fossem milhares de néctares
Esparramados sobre mim:
Eu não seria esta infinitésima parte
Da paixão do Cedro Rosa
Anecrosada de amor
A desfilar sob o estomago vazio da palavra,
O rebojo das traças.
Mas, se a palavra me lançar à fúria
Quem ousará copular meu pênis
Masturbando-os de prazer e cansaço?
Quando restar-me-á a languidez da Hóstia
Untada à fritada de óleo de Ema?
Tivesse a vida por fim
Me lançado à ferrugem e ao cansaço
Que se gozasse infinitamente
Sobre a aurora da vida
Chama e vertigem da fala
Pudesse (a palavra) bebido
Esse gozar perfumado do jasmineiro
Infectado de êxtase
E fosse talvez como a solidão da noite
Cujo degelo da pálida fomedez do orvalho
Ardesse seu infinitésimo penetrar
Sob a saliência da faca,
Ou tivesse a fala
Sido como eu
Anjo rebelde caído
Poeta desfalecido
Postulando à noite
A salvação das espécies
Solvendo veneno
Morrendo poeta.

2 - Decodificar o mistério do poeta
(De toda compreensão...)
Soa como fosse arte de suprimir fomes
Desumanas do não.
Partilhar a dor
O chão. O pão. A solidão...
Desvendar as dores do poeta,
Não é solução desmedida
De quem sabe o destino:
O lascivo enigma da mão.
A lavra maior é repartir
A aflição, a utopia.
Hálito dos inaudíveis bálsamos,
Sonhos das forças armadas
A confinar nos vincos
As lendas e destinos repartidos.
Repartir o poema é expor
O gozo da oração,
A crase que os reversos
Não se podem decifrar...
mas que nos insultados é morbidez de cão
A repartir o poema,
A silenciar a agonia por mais dolorida
Que seja.
É ter no poema a coragem
E a força
De exorcizar a rima
Como uma fé
Renascida.

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