terça-feira, setembro 05, 2006

Sob o betume do cais



Semblante entrincheirado,
Interstício da libélula em vôo de gozo.
Sob o queixo do poeta há o vazio,
Contextura do abismo
Imerso em superabundância.
O betume?
Sucede o cais inseminado.
Do alto
De sua altivez,
Brada um lamento:
Oh! Lã reprimida!
Oh! Pêndulo moroso!
Oh! Estrelário apagado!
....................
Prostrado
Em lânguida terra calcinada
O seixo gozado vegeta,
Réstia de luz a voar do corpo ao estômago;
Da subversão à fuga; do vazio
À pusilânime vontade,
Como se voasse a fugazes gametas
Refazendo-se do duo-castigo poetado...
De modo que sob a lucidez do cântaro ensopado,
Deixar-se-ia seduzir pelo álibi do orvalho;
Ou quando muito,
Apressar-se-ia a extinguir
Súbitas parábolas
Até restarem duas trêmulas feridas,
Como o barro e a nódoa,
Como o túmulo e os ecos marginais.
....................
- O Corpo?

Solstício da tabela estomacal periódica,
Cútis do ébano esvoaçando rosas penetradas...
Muito embora copulasse a pedra
No extremo do olhar,
Como que rebentasse ervas ressequidas,
Ah! É entre vazios metafísicos
Que a alma se dá
(Desembocando-se nas intermitentes palavras desditas),
Pois que ao sol queixar-se-á gozosa;
Seus ávidos gozares quais túmidas vertigens,
Emprenhar-se-ão de poemas
Feito malquista baldeação.
....................
- O cais?

Coisa abstrata não é
Nem concreto armado
Prende-se à penumbra orgânica dos porcos;
Sombras e ligames virgens
Não a ligam à piedade
Dos barcos à vela nem UFOS fantasmas
Desembocam-se de soslaio
Em bacias de gente,
Às costas da imaginação.
....................
- O pontilhão?

Esta é Belém,
Onde as raparigas gozam espetaculosas.
Este é Bar do Parque,
De Max e de Rui
Os mais amados.

Nota do Autor:
1 - Bar do Parque: Local de encontro de boêmios e intelectuais que, aos finais de semana incendeia de papeados, a cidade de Belém.
2 - Max Martins e Rui Barata: Dois importantes poetas paraenses.

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