quinta-feira, março 22, 2007

O medo



I

Nada a temer
senão expurgar o gemido
insidioso
e o desalento de coexistir
sob fogo cruzado
por estar fincado entre as ilhargas da vida
e a fuga do que se gala
ao medo.

II

Nada a temer
senão expelir o esperma retrocedido
como se aroma morto-vivo fosse.

− Nasci alma sem tempo.

− Cresci pausadamente
qual barreio amarelecido pelo gôzo
de véspera.

III

[Mas]
Agora assessoro o espírito dar-se à flor.

Agora devoro as últimas palavras
que restam
sob julgamento
a cru.

Agora apuro
o aço da vertigem
que me afasta do sonambulismo lerdo,
pois dele não lhe faço uso.

Agora poderei
constatar a olhos pudicos: o que terá feito
o silêncio  
para que o sofrimento
não lhe propague tenebrosa
quarentena

de ais.


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2 comentários:

Anônimo disse...

Simplesmente belo. Poema de encantar qualquer amante.
Parabens!

Anônimo disse...

Humano... Real e sincero.
O mundi vive assim, poeta.