domingo, setembro 14, 2008

A verdade do inseto!


I
Ah! Se interrompêssemos o descorar das palavras!
Ah! Se desvendássemos a verdade do inseto!
Ah! Se curássemos virulentas feridas!

Oh! Oh!
Dores de mim.
O amor é tanto mais feliz
a quanto baste está putrificado,
ou impor-nos a proeza das metáforas infelizes
com seus séquitos e condimentos.

(Dor a quanto nos levas?)

Obriga-nos à existir por você,
és uma lágrima de quem não existe...

Teus cancros são contraídos
em pusilânime sorriso...
Teus fôlegos são como fomes remetidas
às gargantas dos orvalhos e esqueletos...

Gélidos arcabouços
cujos pingos que desdizes em pedaços
são bolorentos como as vertigens,
tem o poder de punir,
de guardar segredos e humilhar-nos
e se contradizem ao vomitar:

Oh! Dor! Oh! Dor!
é nesses lamberes sem alvo corpo
que dormes e te exilas
da bêbada desforra...

Apesar de impunemente
caires nos narcisismos da madrugada,
crias um indigente justapor
de vida e morte,
porquanto cabe à revolta
reparar os enganos que te seguem.

II
Ai! Tento não sobraçar a pergunta que foge...
Mas como não sobraçar de vez
nas difusas ribeiras de solidão?

A incomparável gravidez dos anjos.
trái o público do de mim
que, ébrio, assiste ao espetáculo
da paixão e êxtase da palavra...

Ao me esfregar no hímen complacente
das virgens de boca fácil,
melo-me de asfalto
e sigo e creio-me esvaindo
inexoravelmente ao vento,
à símile tez que se acumula
sobre a braguilha dos deuses:

Oh! Dor! Oh! Dor!
Crias-me parco deslumbre poético,
caias-me de rouca fumaça
e por tal feito só posso comparar-te
à fétida madrepérola
de aflito gozo.

III
A verdade existe...
Mas não me atirarei à submersão
dos náufragos, nem à usualidade
de quem os colide
com seus embebedados teoremas:
fazer cópulas sem lógica,
ou até mesmo sujeitar vidas gozadas,
a rubricar, impelir, combater – definir!

Mas... É rumando
para o sal da carne de nada,
que o poeta desvirgina-se em sangue.
Lá onde os poemas deprimidos submergem,
soluçam, galam...

Apavorante testículo,
com o suor a escorrer-lhe pelos lábios:
bacilo dessas mentecaptas gramáticas,
desses incólumes testosteronas,
desses palavreadores indefinidos
e dessas vadias formas de penetrar.

©Benny Franklin

Foto: Paulo Cesar F. Gomes
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Um comentário:

SAM disse...

Perdi o fôlego tamanha beleza poética! Sorvi da taça poética.


Grande abraço!