domingo, fevereiro 05, 2012

Uivos reinventados


Fotografia By Lee Jeffrey

[Para Marven. Irmão-poeta de vida e sonhos.]

"Não há poema em si, mas em mim ou em ti."
[Otávio Paz]

I

Tempo; oh, tempo rude, oh!

Com um silêncio sem lógica
alçaste as asas fogosas das orgias dos céus de quartzo-magma
qual feroz condor. E os vômitos das antes-laudas rasuradas
e os espinhos-fêmeos cravados em tumbas indormidas
são soluços que cabem em ti ― como cartase poética
onde cabem burburinhos mortificados.

II

Tempo; oh, tempo rude, oh!

Como um caimento de estrelas mal calculadas
te vi cair sozinho na vil sarjeta da gramática torpe.
E os efeitos da nervura da palma
e a torpe falação do reparte
e a flutuação verborrágica da após-partida
permanecem em ti
até que o lume da lágrima
seja revestido de salivas assexuadas
e uivos reinventados;
até que o porvir da lauda hermafrodita
seja resguardado da agonia recozida
― como os cárceres frígidos onde não cabem 
olhares crucificados.

III

Tempo; oh, tempo rude, oh!

Covarde como uma mortalha pendente
no santuário do medo
rasgaste o manto da coragem
e amadureceste o sonho mal vingado.
Um poeta é de sempre [oh, tempo indefinível!]:
o que tu fazes hoje
é a mesma castração do verbo amargoso
que fizestes em recurva de agonia conjeturada
sob calibre de açoite langoroso.

IV

Tempo; oh, tempo rude, oh!

Agora o vômito
e o vinco da rodagem falante
num poema baldio
para celebrar o sacrifício poético da moenda solitária,
dos anéis de fumo infartado
e das glaciais mui apunhaladas.

V

Tempo; oh, tempo rude, oh!

Lá fora
a evocação do fuzil ingênuo nos símiles das falações
― e a puta e a vidente e o jardineiro recolhendo
folhas do abandono.

Lá fora
o vergar da aurora nos tímpanos das algemas
― e o guru e o monge e o pedreiro reinventando
verbos-filhos do amanhã.

VI

Tempo; oh, tempo rude, oh!

Sou e sou
a contradição amarga que [vos] toca
como fúria ― o âmago!



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2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom! Falaste do tempo suas fabulas de passamento,

Unknown disse...

Prezado Benny, não existe coisa mais incrível que o amor, a cumplicidade e o respeito entre irmãos. Isso é um delícia! Um não se cansa de torcer pela sua realização do outro no seguir da vida. Irmãos companheiros que compartilham entre si tantos momentos de carinho e que nos presenteiam com suas belíssimas publicações. A linguagem de sua poesia parece difícil de entender, mas por trás dela está o amor e respeito mútuo, que representa o quanto é importante um existir na vida do outro, é vigoroso. A melhor homenagem é na existência que vai além das palavras e só o coração pode falar de forma mais pura.